quarta-feira, 2 de maio de 2012

Apresentação

Negros, canais, lagoas e outras imagens periféricas, um projeto de pesquisa e extensão patrocinado pela Uneal (Universidade Estadual de Alagoas) através da Pró-Reitoria de Extensão (Pró-Ext), é um projeto de exposição fotográfica montada a partir da seleção de imagens desfocadas das atuais dominâncias simbólicas das imagens de Sol e Mar, o qual,  que tem como o seu principal objetivo,  a provocação da abertura de um campo de visibilidade e de memória de diferentes roteiros geográficos, eventos, culturas populares e manifestações religiosas. O somatório destas imagens, existindo em demasia pelas Alagoas, até a presente data têm sido preteridas e soterradas em decorrência da dominância de um roteiro imagético permanentemente saturado por um campo simbólico inflacionado pelos registros das imagens de Sol e Mar.
Explicitando os movimentos, do projeto inicial de realizarmos uma exposição fotográfica, ao entrarmos em relação com o nosso material de pesquisa, as fotografias, aos poucos nos veio a idéia de dividirmos o mesmo em dois momentos: o primeiro, a construção de um blog, para somente a partir daí, já tendo sido consolidado a persistência de um campo mais efetivo de presença, a realização da segunda etapa com a realização da exposição propriamente dita.
É neste sentido que o presente projeto de pesquisa está reunindo em suas imagens, um fragmento das trajetórias dos fotógrafos, os quais, através de suas imagens e temas, também se expõem em seus diferentes registros de negros, canais, lagoas e outras imagens periféricas.

Introdução

Negros, Canais, Lagoas e outras Imagens Periféricas   

Por Edson José de Gouveia Bezerra

Para Cláudio Canuto,  Edvaldo Damião, Marcial Lima (em memória) e, Jairo Jós
      
      
       O projeto que por ora estamos apresentamos, foi inspirado na escrito do Manifesto Sururu, e, sendo ele o manifesto, uma narrativa que se enquadra nos movimentos de uma estética romântica, no entendimento de ser o ela, um estilo que constrói a articulação de seus movimentos, textos e imagens, mediante a incorporação de elementos retirados das culturas populares, de suas vivências e de  suas alegorias.
       Na verdade, a escrita do manifesto é uma escrita-testemunho sobre os escombros da modernidade alagoana, no entendimento de ser ela, modernidade, um movimento de seleção que se alarga, se consolida e se aprofunda a partir de uma sistemática destruição das tradições.
        Neste sentido, ao escrevermos o manifesto diante do sumidouro das tradições alagoanas, as nossas afinidades eletivas se definiram a partir das escrituras culturas populares e nelas, as escritas dos negros e das geografias apartadas das imagens centrais, as quais, têm sido consolidadas em dominância, a partir de práticas articuladas em torno de  um imaginário de Sol e Mar.  Daí é que nele, manifesto, além das geografias periféricas, as figuras de Tia Marcelina e de Zumbi se sobressaem enquanto articuladores centrais das narrativas das tradições afro-alagoanas, e, ao redor delas, um desfilar de personagens postos às margens, e também, a violência da quebra dos terreiros alagoanos em 1912.
       Com esta compreensão, diante do sumidouro da modernidade, toda a narrativa do manifesto é uma estética de desentranhamento articulada a partir das escritas dos negros alagoanos, entendendo-se aqui por escrita, as cores, os batuques, as danças, no entendimento de serem elas, cores, batuques e danças, alegorias, escritas agônicas da sobrevivência das culturas populares diante da destruição do moderno.
 Neste sentido é que no presente projeto em sua articulação de imagens, o que nele se buscou por detrás das presenças, foi as possibilidades de provocarmos um desentranhamento das coisas alagoanas. Daí, então, a forte presença das geografias lacustres e de personagens soterrados no alinhamento comum de serem todas elas, geografias e personagens, contranarrativas diante da esperança de reatarmos por dentre os rastros da destruição, o inconsútil fio da memória. E vai ser justamente na articulação do registro das margens que podemos situar a indagação benjaminiana quando ele nos pergunta:

(...) não somos tocados por um sopro do ar que foi respirado antes? Não existem, nas vozes que escutamos, ecos de vozes que emudeceram? Não têm as mulheres que cortejamos irmãs que elas não chegaram a conhecer? Se assim é, existe um encontro secreto, marcado entre as gerações precedentes e a nossa. Alguém na terra está à nossa espera.
 

       No que se colocam as possibilidades de um encontro, trata-se da construção de um evento em compasso de uma espera somente possível de se consolidar no tempo presente. Todavia, o presente, no entendimento de ser ele uma construção do humano, ele comporta em si mesmo, descontinuidades e vazios em busca de completudes. E então, podemos indagar: de qual tempo e de que presente aqui se fala?
       Agostinho, o Santo, ao discorrer sobre o presente, vai articular a idéia da existência, não de um, mas, de três tipos de presente. Ela vai nos dizer que existe o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes, e - lugar de uma possível utopia – o presente das coisas futuras. E eu cá me pergunto: com qual presente a exposição de  Negros, Canais, Lagoas e outras Imagens Periféricas se identifica?
       Se fosse eu a escolher, do presente das coisas passadas, muitas das coisas de nossa Alagoas eu as deixaria no digno museu das memórias. Assim, aos Marechais alagoanos, eu os deixaria lá nas estátuas das praças e envoltos em suas lembranças das guerras pacificadoras ao longo dos embates históricos. Afinal, no agora das Alagoas, mas do que nunca, é preciso não se identificar com a história do vencedor, pois, a ser verdade o pressuposto benjaminiano de que nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie, é justamente disto que se trata. No movimento das escolhas, eu também deixaria enjauladas nos cárceres da memória, as intrigas políticas e as lembranças das guerras fratricidas dos grupos políticos. Do presente das coisas passadas das coisas alagoanas, entre as belezas em demasia, Negros, Canais, Lagoas e outras Imagens Periféricas se identifica então com a saga e a trajetória de Zumbi e a República solidária de Palmares e com toda a trajetória das comunidades afro-alagoanas, as quais vêm atravessando os séculos mantendo viva no coração e nas entranhas de seus corpos, as seculares heranças das culturas populares alagoanas e é justamente neste sentido que, na busca de manter acessa as possibilidades de todas as emergências, é que a presente exposição se alinha com as imagens e as trajetórias dos autores que nela se expõem, diante das possibilidades de sermos todos nós tocados por um sopro de um ar já antes respirado e escutar através delas, imagens, vozes que já escutamos e também, de ecos de vozes que já emudeceram.
       É neste sentido que a presente exposição se coloca em contrapelo à atual consolidação de uma identidade central construída a partir da dominância das imagens de Sol e Mar, uma vez que, no que se entende ser esta uma identidade que vem sendo  construída a partir de relações de força  e da exclusão de um somatório de imagens e de trajetórias - das geografias fluviais e lacustres e das culturas populares -   as quais, têm sido relegadas em virtude da reduplicação da dominância daquelas imagens. Com este entendimento, Negros, Canais, Lagoas e outras Imagens Periféricas parte do pressuposto de ser Alagoas, além de Sol e Mar, todo um somatório teimoso de imagens, práticas e de trajetórias que se entranham e se proliferam através de seus tipos populares, de seus índios, de suas culturas populares e que, além do humano, Alagoas também se espalha e se derrama através de suas dezenas de lagoas, da primitividade ancestral de seus mangues canais, e também ainda, na sinuosidade de seus rios e nos planetários de seus mirantes.
       Foi neste sentido que, amante que sou das imagens, quis compartilhar das Alagoas, as imagens e as trajetórias de suas entranhas e, neste encaminhar do desejo, a certeza de ser este, um desejo não apenas meu, mas de outros. Daí então, a iniciativa  de compartilhar o imaginário da presente exposição com os fotógrafos que dela participam.
       A bem da verdade, se a idéia da  presente exposição – vale o registro, se inspirou na trajetória de Celso Brandão e de Lula Castelo Branco ,  ela também é devedora das escritas das imagens de Siloé Amorim, de Christiano Barros e de Luiz Cunha, na medida em que todos eles, cada um a seu modo, também têm se desdobrado na construção de um olhar desfocado das imagens centrais.
       No sentido ainda de compartilhar uma trajetória, vale pontuar enquanto presenças fora do texto, as trajetórias de velhos e novos companheiros de viagem. É neste sentido que vale acentuar aqui nas entrelinhas, tanto os de algum tempo - caso de Ernani Viana, Jurandir Bozo, Cristiano Barros, Osvaldo Maciel, Chico Elpídio, Zé do Boi, Adelmo Afonso, Pedor da Rocha, aos meus mestres Dirceu Lindoso e Remo Mutzenberg, Marcos Sampaio, Werner Salles, Fernando Gomes, Nonato Lopes, Moisés Calu, Sávio de Almeida, Wilson Santos, Ronaldo de Andrade, Marcus Antônio, Bruno César, Rachel Rocha, Clébio Araújo, Geraldo de Majella. e de Zé Marcio – como também, os de há pouco, como tem sido o caso de Bruno Gustavo, Liara Nogueira, Sérgio Gusmão, Levy Paz e Alexandra Vieira, Kátia Lanúzia, Arnold Borges, Mestre Claúdio, Rogério Dias,  Antônio Marcos Pontes de Moura e também, a todos os religiosos dos cultos religiosos de matriz africana, os quais, ao longo de minha trajetória têm sido para mim, motivo de inspiração e de júbilo. A todos enfim, a presente exposição se oferta no compartilhar de um sonho: o de poder sentir a presença de uma Alagoas transfigurada e ampliada a partir do poder de suas belezas e da pulsação de suas imagens e culturas periféricas.

sexta-feira, 5 de março de 2010

As comunidades culturais dos bairros periféricos enquanto Quilombos: refletindo no contexto urbano sobre o texto de Dirceu, A Importância do Mundo Quilombolala, ou, de como se pode criar (ou já está em andamento) um Quilombismo Urbano



Por Edson Bezerra




Para Geraldo Majella, também ele um aprendiz das coisas de negros.


Sendo quase que em sua maioria a cultura popular alagoana tributária das raízes das culturas negras dos negros alagoanos, as comunidades dos bairros periféricos [1] que atualmente se proliferam aos arredores da cidade articuladas sob a dominância das culturas populares alagoanas, se constituem em verdadeiros quilombos urbanos, uma vez que, entre as manifestações dos afro-alagoanos – sejam estas religiosas ou das culturas populares – todas elas se enquadram em uma linhagem - mesmo que disto não se tenha ainda uma consciência clara - nos remetem para o utópico universo do Quilombo dos Palmares. Bem entendido, trata-se aqui de se alinhavar uma tradição, ou melhor, de criá-la, no sentido de que uma tradição tanto pode ser construída – e Palmares é disto um exemplo seminal – como também, inventada, e é justamente disto, de uma invenção que estamos falando.


É neste contexto que devem ser entendida as dezenas de comunidades dos bairros periféricos, as quais, fazendo uso de manifestações arcaicas, residuais e emergentes, nos últimos anos vêm se desenvolvendo em uma linha de memória que nos remete à Palmares. Com esta compreensão, diferentemente das dezenas de comunidades quilombolas que atualmente vêm se construindo enquanto uma comunidade de memória na luta pela terra, os quilombos urbanos vêm se desenvolvendo seja através de na incorporação de elementos arcaicos, - caso das manifestações religiosas sendo exemplar neste sentido a reinvenção do Maracatu a Corte de Airá pela Casa Hùnkpàmé Alàirá Izó (Palácio Real do Senhor do Fogo) de Pai Elias, da prática da capoeira – ou através das manifestações culturais emergentes na modernidade, as quais, através da vivência dos hip-hop, dos grupos percussivos, dos grupos de danças afro ou ainda, das bandas de reggae que nos últimos anos têm se proliferado pelos bairros periféricos da cidade. Com esta compreensão, todas estas agências, sociologicamente situando, são quilombos urbanos, e seus sujeitos, quilombolas, quilombistas urbanos, os quais, além ou aquém da cor da pele tem construído no coração da modernidade em Maceió enquanto uma cidade apartada em duas metades,  espaços de uma possível utopia através de suas práticas quilombistas.

Bem entendido, é justamente neste sentido que deve ser contextualizada a prática de um Rogério Dias do quintal cultural na Vila São Francisco nos imprensados espaços entre a Vila Brejal e o bairro do Bom Parto; a militância de um Ari Consciência em sua trajetória na construção de uma consciência negro-periférico a partir do reggae, de um Luís de Assis da banda Vibrações, de um Nonato Lopes da Associação Cultural da Zona Sul no Vergel do Lago, de um Zazo e de um Mano na articulação dos grupos de hip-hop das periferias, de um Mestre Girafa  do Muzenza na prática da capoeira, de uma Paulinha e seus Malungos do Ilê de uma Sirlene Gomes e de uma Viviane Rodrígues na Cepa, de uma Mãe Vera e seu Abassá de Angola  e das articulações de  Mãe Neide através de seu Àrá Funfun Omanjéré, Centro de Formação e Inclusão Social Inaê. . E poder-se-ia então perguntar: por que ou por quem eles lutam?

Ao contrário dos quilombos modernos situados nas entranhas dos agrestados e dos sertões alagoanos, eles, os quilombistas urbanos, assim como aqueles também herdeiros de Palmares, ao contrário daqueles, não lutam pelo reconhecimento de sua identidade de negros periféricos através da luta pela posse da terra. Por que e por quem eles lutam, é em busca de reconhecimento de uma identidade negra a partir do coração de nossa modernidade, e, em suas lutas, em suas danças, em suas cores e em suas narrativas, o que eles vêm construindo, é uma memória de uma identidade que nos remete a Palmares em sua busca de uma sociedade mais justa e mais fraterna e, enquanto tal, por uma multiculturalidade afro-alagoana aqui e agora situada em uma cidade que exclui e que segrega os jovens negros pobres e periféricos ao sumidouro do esquecimento e assim eles têm se colocado enquanto uma possibilidade de uma redenção do ato criminoso quando do ato da Abolição e de seu ato criminoso de não dar aos negros as condições de sobrevivência de que nos fala o mestre Dirceu Lindoso. Sobre o por  que eles lutam, sejam dançando, cantando ou  batucando, é uma luta por justiça e cidadania e, eles, todos eles, também são tributários não apenas do negro Zumbi e de toda a herança utópica de Palmares, mas também, de todos os negros alagoanos – do negro Marcelino Dantas, de Edson Moreira, de Zezito Guedes, do negro Aldo, de Edu Passos, de Mestre Jacaré – e de tanto outros, os quais, há décadas - quando falar em cidadania de negro era ousadia de negros de Senzala - se doaram de corpo e coração para que hoje estivessem emergindo das margens no coração de nossa modernidade, uma cultura negra, a qual, embora ainda que periférica, vêm emergindo em júbilo pelas periferias da cidade mas que todavia,  um dia explodira todas os cantos da cidade fazendo cumprir assim a profetiza da Tia Marcelina em seu dizer quando na hora de seu massacre: bate, bate, vocês matam o corpo mas não a sabedoria.

Então é isto, quem viver verá.

Notas:
[1] - Quintal Cultural (Vila Brejal), Cepa (Jacintinho), Guerreiros da Vila (Sítio São Jorge), Comunidade Jardim Alagoas (Próximo ao Sanatório), Comunidade Vila Brejal (Vila Brejal), Revolucionarte (Vergel do Lago), Comunidade Vila dos Pescadores (Vila dos Pescadores), Sururu e Arte (Cruzeiro do Sul), Grupo Cultural Muzenza (Desenvolvem atividades nos bairros do Clima Bom, Conjunto José da Silva Peixoto, Feitosa e Benedito Bentes), Centro Cultural e educacional do Benedito Bentes (Benedito Bentes), A Corte de Ayra (Grota do Arroz), Núcleo de Cultura afro-brasileira Iya ogum-te Casa de Iemanjá (Ponta da Terra), Axé Zumbi (Vergel do Lago), Núcleo Cultural da Zona Sul (Vergel do Lago), Comunidade Sururu de Capote (Comunidade Sururu de Capote), Comunidade Cidade Sorriso 1 ( Cidade Sorriso), Comunidade Santa Maria (Antiga cidade de lona), Cepec: Centro de Educação Popular e Cidadania: Benedito Bentes, Malungos do Ilê (Bebedouro), Oju omim omorewá (Jacintinho), Afro-Caete (Jaraguá), Ioruba (Vergel do Lago), Sua Majestade o Circo (Vila Emater 2). 

quinta-feira, 4 de março de 2010

A Importância do Mundo Quilombola


Dirceu Lindoso


A importância de se estabelecer historicamente o espaço geográfico do mundo quilombola tem, quatro séculos depois, o de delinear o continuidade de uma cultura que se criou durante a formação de uma forma de sociedade que ainda  persiste como forma de estabelecimento dos descendentes de escravos cujo surgimento se fez durante a criação das comunidades de mocambos nas matas palmarinas do sul do antigo Pernambuco no século XVII. A essa forma de cultura criada por negros escravos fugitivos das plantations açucareiras do antigo Pernambuco ainda hoje existe como um modelo de criação social dos antigos escravos.

O quilombo, cuja maior criação foi o Quilombo dos Palmares no século XVII, não é um fato social que encontrou o seu fim com a destruição de suas comunidades de mocambos em 1795. Os mocambos todos não foram destruídos. Os que foram destruídos foram os principais quilombos de cercas reais com os ataques das colunas para-militares de mamelucos paulistas e sertanistas pernambucanos, com o apoio de seus índios-servos de sertão. Arrasado o Quilombo dos Palmares, os quilombos menores escaparam da destruição, e as populações dos grandes, que não foram mortas em combates e vendidas para o exterior, se reorganizaram em pequenos tratos de terra no meio das grandes matas que cercavam os engenhos de açúcar. Desses pequenos mocambos alguns códices fazem nota, dando-os como habitados por afro-descendentes. E quando se iniciou em 1832 a Guerra dos Cabanos nas mesmas matas onde houve a destruição do Quilombo dos Palmares, nelas existiam as aldeias dos negros papa-méis, que eram fugitivos como os negros quilombolas.

Há portanto três tipos de quilombos: os formados por escravos fugitivos, que vai até 1795 com o nome de Quilombo dos Palmares, que ia desde Serinhaém, passando pelas matas de Cucaú e Quipapá e das Cabeceiras do Porto Calvo até as matas dos vales dos rio Mundaú e do Paraíba do Meio, e que foram destruídos nos ataques das últimas décadas do século XVII; e há os quilombos posteriores à destruição do Quilombo dos Palmares, que chegam à época da Guerra dos Cabanos; e por último os mocambos que surgiram depois da abolição da escravatura, pelo fato da abolição monárquica não ter dado aos ex-escravos além da liberdade, a terra para eles viverem. As comunidades quilombolas do século XVII foram quase todas destruídas pelas forças do Estado Colonial hispano-portuguesas; as que se reorganizaram depois do fim do Quilombo dos Palmares, eram comunidades mocambeiras esparsas sem capacidade de defesa; e as que surgiram pós-Abolição foi um movimento que dura até os nossos dias em razão de não lhe terem doado terras para viverem e trabalharem, e cuja forma de defesa é a apropriação das terras que ocupam. Este nosso estudo tem por objetivo o estudo e caracterização desses mocambos pós-Abolição, analisando seu objetivo maior: a apropriação das terras que ocupam como forma de indenização que não houve no ato de abolição.