Os Negros de Zumba



Os Negros de Zumba

            ..e Os Negros de Zumba? De que modo situá-los e, mais do que isto, como pesá-los, quando se percebe que, ao contrário da negritude sem face dos negros anônimos e sem rosto dos negros tal como expostos nas telas das Culturas Populares, agora aparecem a contrapelo do secular peso da humilhação dos negros alagoanos, aparecem agora enquanto negros altivos, os quais, ao pesá-los, poder-se-ia imaginar que os nossos negros, os negros alagoanos,  nunca terem sido negros a-sujeitados e submetidos  a violência da escravidão.
            A bem da verdade, as telas dos Negros de Zumba, mas do que homens apresentados e expostos, são também eles, imagens de homens-alegorias, alegorias dos tempos ancestrais e, o que se vê através deles, são os resíduos dos negros palmarinos, de negros papa-meis, os negros rebelados, negros cabanos. Com certeza que também por dentre eles, poder-se-á encontrar negros jagunços. Porém, onde estão as armas?
            De todo modo, o que se pode captar através dos Negros de Zumba, é uma híbrida mistura que se distribui entre um misto de altivez e uma calma dormente de sabedorias ancestrais. Afinal, eles estão ali e o semblante deles não nega serem quase todos eles, os ex-escravos, negros do eito e da bagaceira e negros migrantes e reminiscências das dos antigos bengués.
            Enfatizando o trivial comum, quase que não seria necessário destacar, serem os negros retratados por Zumba, imagens de negros transplantados e enquanto tais, reminiscências de negros escravos e todos, todos eles invariavelmente registrados no período pós Quebra dos Terreiros, a maldita quebradeira dos terreiros de Candomblé de 1912.
            Sabe-se hoje – detalhe sobre o qual muito pouco pouco se atenta – ter sido ele, Zumba, um filho de santo, e, enquanto tal, inserido no estigma de negros filhos-de-santo, perseguidos e humilhados durante décadas no período posterior ao quebra. Com esta compreensão e atento às particularidades das alegorias, há que se destrinchar em alguns de seus negros, os traços religiosos da matriz africana do pertencimento de Zumba, enquanto alegorias de uma religiosidade, de uma resistência de décadas e décadas, sob o vergonhoso peso da humilhação de terem sido perseguidos por suas devoções aos seus mistérios sagrados e de suas devoções aos orixás.
            Todavia, olhando as suas imagens de negros, de negros altivos, podemos perceber que, através deles mesmos, poder-se-ia pensá-los que postos ali com estão, que, no particular, eles bem que poderiam representar uma projeção de Zumba no entendimento de ter sido também ele,  um negro altivo, um artista que fugiu da fome e driblou a miséria produzindo sonhos através de seus negros, de negros imaginários, os quais, imaginários nunca deixaram de serem todos eles, negros reais. Afinal alguém já o disse, a realidade é para quem não suporta viver a fantasia.
            É neste sentido que se expõe a imagem de um negro altivo em sua pose quase que em deboche  ...de cima prá baixo, ou então no sereno olhar de parecer cabano-papa-mel do Preto de Engenho, ou ainda, a imagem de Negro com terço e escapulário, do qual, poder-se-ia pensar: seria ele um dos nossos negros ancestrais, daqueles mesmo que fundariam irmandades que levaram a cabo a construção de igrejas de nossa cidade, como fizeram muitos ao soerguerem  as Igreja dos Rosários e dos Martírios, enquanto  monumentos católicos construídas por irmandades compostas de negros escravos?
            E, no registro das memórias, também as imagens religiosas por sobre os negros através de cores que se derramam luminosamente por sobre as imagem do Preto Velho com terço azul; imagens que prosseguem por sobre a ancestral afro-religiosa da figura do O Preto Velho e na mesma cadeia significante  também a misteriosa figura do Preto com Chapéu de Palha e fita vermelha.
        Ainda no registro das ancestralidades, as religiosas figuras da Mãe Preta - a generosa criadora de meninos brancos, negros, mestiços e pardos – e também, de uma Filha de Santo e, finalmente, articulando o circulo de um sagrado das margens, a figura de um Beato, a errante figura de um catolicismo popular também advindo das margens e das beiradas das tradições canonicamente estabelecidas.
            Finalmente, fechando o círculo de sua negritude imaginária, duas imagens: a primeira, a de uma figura por ele nominada de Alagoano, e a segunda, a de Velho Fumando.

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa tarde, sou advogado em Maceió, minha mãe também mora em Maceió, porém na casa dela tem um quadro do zumba, o qual retrata uma negra ama-de-leite amamentando uma criança branca e seu filho no chão... Se possível entrar em contato... Esse quadro é do tamanha de uma parede toda... Meu Whatssap 82 999978281 Astriel Lobo